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sexta-feira, 5 de junho de 2015

O novo antigo hábito de escrever diário

Em maio retomei um bom e antigo hábito e vou contar um pouco como tem sido a experiência.

Meus diários do passado

Eu iniciei o hábito de escrever diário na infância e mantive até um certo momento da minha adolescência. Um dia briguei com a minha irmã, fiquei com muita raiva dela e, como era de praxe, desabafei no diário. Para meu azar, minha mãe leu, ficou triste, ficou brava, me deu bronca… parei de escrever o diário.

Mas investi nas cartas que mandava para centenas de amigos por correspondência, já que minha mãe não as lia antes de eu enviar. Eu contava fatos do cotidiano, problemas familiares, paixões platônicas, expectativas para o futuro... Eu me abria de verdade com meus pen pals. Se um dia alguém realmente quiser saber quem era Helen Fernanda dos 13 aos 18 anos de idade, vai ter que procurá-los por todo o Brasil e em algumas cidades de Portugal.

Com 16 anos entrei na faculdade e fui gradativamente diminuindo o ritmo das cartas, mas descobri a internet. Durante um tempo este blog serviu como diário, como era comum entre as adolescentes da época. Esta semana mesmo me diverti lendo um post de 2008 em que contei como pulei o muro para entrar na minha própria casa.

Em 2008 eu pulei o muro. Ainda bem que contei essa história no blog, nunca ia me lembrar sem ajuda. kkkhttp://www.meutedio.com.br/2008/05/eu-pulei-o-muro_7425.html

Posted by Meu Tédio on Domingo, 31 de maio de 2015

Meu blog amadureceu e ganhou conteúdo mais relevante, para nossa alegria. Só que eu, que não sou nem um pouco chegada a conversar sobre acontecimentos do cotidiano, acabei perdendo de vez o hábito de relatar os fatos e isso me deixou com uma memória muito ruim. Outro dia, por exemplo, fiquei um pouco triste ao constatar que não me lembro quase nada do que aconteceu na festa de casamento do meu irmão, que foi em 2010.

Minha motivação

Nos últimos anos tenho lido vários livros e artigos que falam sobre os benefícios do hábito de escrever diário, não apenas para a memória. Isso foi me deixando cada vez mais motivada a retomar a atividade.

Até que no dia 11 de maio finalmente me lembrei de ir à papelaria e escolher um caderninho. E com capa bem fofa para não perder o ânimo. No mesmo dia comecei a escrever.

Hoje completo 25 dias com essa nova atividade na minha rotina. Acho que ainda é cedo para ter conclusões definitivas, mas nesse período de retomada do hábito estou me sentindo com as ideias mais organizadas e consequentemente muito mais produtiva, já que sou comunicadora social e meu trabalho depende muito da minha clareza mental.

E poder reler o que me aconteceu uma semana atrás, sem sofrer tentando lembrar "de cabeça", também me dá uma sensação muito boa de ter controle sobre meu próprio passado, sobre minha própria história. Vale a pena.

Meu método

Geralmente as pessoas só escrevem o diário ao fim do dia, mas pra mim o que funciona melhor é já iniciar durante o café da manhã. Primeiro releio e verifico se finalizei o diário do dia anterior. Se eu tiver me esquecido de anotar algo que considero relevante, adiciono.

Depois, pego uma caneta de cor diferente do dia anterior. Parece frescura, mas ajuda bastante quando preciso procurar datas antigas porque sei exatamente onde termina um dia e começa outro.

Com caneta e caderno na mão, escrevo a cidade, a data e inicio falando como está o tempo (quente, frio, fresco, abafado…), o que estou comendo e bebendo (leite, café, Toddy, pão-de-queijo, biscoito, mamão…), como estou me sentindo (tranquila, animada, preguiçosa, sonolenta…), que perfume estou usando, se estou usando pela primeira vez um produto novo (roupa, calçado, cosmético…). Quando estou muito ansiosa ou otimista, também escrevo algumas intenções e ideias que tenho para o resto do dia, mas não em forma de lista de tarefas porque isso costumo anotar em outro lugar.

Geralmente volto a escrever no diário lá pelas 17 ou 18 horas, se eu estiver em casa. Anoto o que almocei, o que lanchei, o que fiz durante a tarde. Antes de dormir, anoto quais filmes ou séries assisti e, quando sinto necessidade, escrevo também alguma expectativa para o dia seguinte.

Se eu não iniciar o diário no café da manhã, à noite tenho muita dificuldade para lembrar qualquer coisa que eu tenha feito durante o dia. Até fatos relevantes podem passar batidos.

E se eu não iniciar de manhã, é possível que eu não me lembre à noite, só na manhã do outro dia. Quando deixei isso acontecer, consegui escrever apenas quatro frases.

Minha linguagem

O foco do diário é retomar fatos de forma concisa e objetiva, por isso inicio a maioria das frases com um verbo na primeira pessoa do singular: "Fui à padaria…", "Escrevi o artigo…", "Comprei ração…", "Telefonei para…", "Acordei alegre…"

É muito raro eu citar outras pessoas no diário porque minha rotina é bastante solitária (por opção minha), mas quando cito outra pessoa também opto por ser objetiva, colocando as frases na ordem direta: "Minha mãe me ligou para…", "Minha irmã mandou mensagem…", "Meu irmão me pediu…". Quando o sujeito da ação não é alguém importante pra mim, acabo optando por ser o sujeito da frase: "Recebi um e-mail da empresa…"

E entre um parágrafo e outro, não faço questão de ser coesa nem de seguir a ordem cronológica. Vou escrevendo à medida em que vou me lembrando. Posso colocar algo que fiz à tarde, como "Lavei roupa", e logo abaixo escrever "De manhã, coloquei o lixo reciclável na calçada."

Outras motivações

Escrever um diário é uma atividade extremamente íntima, então não faz sentido ditar regras: "faça assim, faça assado". Cada um precisa encontrar sua motivação, seu método, sua linguagem. Mas posso citar mais alguns caminhos possíveis.

A Danuza Leão não é uma das minhas colunistas favoritas, mas em janeiro ela publicou um artigo interessante sobre o hábito de escrever diário como terapia e forma de autoconhecimento. Não é meu caso específico porque mesmo sem escrever sou bastante introspectiva e autoanalítica, mas acredito que pode ser a necessidade de muitas pessoas: “Perca o medo de escrever e faça um diário para se descobrir em 2015”.

E existem várias outras motivações para iniciar ou retomar o diário. Alguns exemplos:

Ser uma pessoa mais criativa
Boas ideias todos nós temos, mas o criativo é aquele que cria, que tira a ideia do papel. O problema é que algumas pessoas não chegam nem a colocar a ideia do papel, então o hábito do diário pode ajudar nisso.
Escrever melhor
O diário pode ajudar a melhorar a escrita de várias formas. Uma pessoa muito prolixa, por exemplo, pode se esforçar para ser mais concisa. Do mesmo modo, uma pessoa extramente concisa pode usar o diário como forma de aprender a se expressar com maior riqueza de detalhes.
Entender melhor os relacionamentos
O diário ajuda a entender melhor nossos relacionamentos a partir dos fatos e suas consequências sentimentais e emocionais. Quando a gente não organiza as coisas no papel está mais propenso a fazer conexões e intepretações erradas.
Criar um novo hábito
O diário é um hábito tão bom que nos ajuda a criar novos hábitos bons. Uma mudança na alimentação, por exemplo, tem maior chance de sucesso se você faz um relatório diário da sua evolução.
Ser e se sentir mais produtivo
Quando você relê dias anteriores e observa o quanto já foi capaz de "fazer acontecer", se sente otimista e assim consegue produzir cada vez mais.
Legado para as próximas gerações
Seja para seus descendentes ou para seus fãs, seu diário será um livro precioso daqui a algumas décadas.
Aprender com fatos do passado
Pode ser que um problema apareça e você tenha a sensação de "já resolvi isso antes", mas não se lembre como. Lendo seu próprio diário você encontra a solução. Adoro quando isso acontece!
Se divertir com fatos do passado
Como me diverti relendo o dia em que pulei o muro, por exemplo.

Acho que já dei bastante o que pensar para quem tinha curiosidade sobre o hábito.

Até mais!



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