segunda-feira, 29 de junho de 2015

Cristiano Araújo, Zeca Camargo e a Rede Globo esfregando a segmentação de conteúdo na nossa cara

Atualizado dia 09/07/2015.

Há meses eu tinha nos rascunhos do meu blog um post sobre segmentação de conteúdo e de públicos. Na verdade eu tinha anotado só o título provisório: Você não é o público-alvo! O texto estava na minha cabeça e eu não tinha digitado ainda porque não sabia como fazer isso de forma concisa e clara.

Só que era um post principalmente sobre a internet e a teimosia de certas pessoas que perdem tempo lendo e criticando conteúdos que não foram feito para elas. Eu ia falar sobre TV também, mas para fazer comparação. Um católico praticante assiste a TV Universal, não gosta do que vê e em seguida liga na emissora para reclamar que a programação fala demais da Igreja Universal, que deveria falar da Igreja Católica também. Situação absurda? Situação impossível? Então por que tanta gente entra em site feminista só para reclamar do conteúdo feminista? Por que tem gente que entra em um site sobre Android só para falar que iOS é melhor? Por que tem gente que entra em site sobre perfumes brasileiros só para dizer que prefere os franceses? Era mais ou menos essa a comparação que eu ia fazer.

Mas o acontecimento do dia 24 de junho e a cobertura da Rede Globo deu outra amplitude à questão da segmentação. O canal esfregou a realidade na cara de todo mundo que achou que a maior emissora do Brasil seria capaz de escapar dessa tendência. Mesmo sabendo que parte da população brasileira já tinha deixado bem claro na internet que nunca tinha ouvido falar em Cristiano Araújo nem ouvido o "berê berê", a Globo cagou e andou para essa parcela da população. Ela mirou nos fãs do cantor sertanejo e para eles dedicou toda a programação ao longo do dia: Mais Você, Encontro, Jornal Hoje, Vídeo Show, sai Sessão da Tarde, Jornal Nacional, Jornal da Globo. Para quem não era fã do cantor, foi mais que sensacionalista, foi surreal. Não entendemos nada. Por quê? Não éramos o público-alvo. A Globo só queria que os fãs do cantor tivessem a notícia a qualquer momento, independente do horário em que ligassem a TV.

Aí, quando você pensa que Cristiano Araújo finalmente está descansando em paz, os sertanejos "universitários" provam que estão matando as aulas de português e interpretam mal uma crônica de Zeca Camargo. Segue um dos trechos polêmicos:

Grandes funerais públicos vêm em ciclos expurgar nossas dores como se tivessem uma capacidade purificadora. É só lembrar de despedidas que, dependendo da sua geração, ainda estão em sua memória. Cazuza, Kurt Cobain, Ayrton Senna, Mamonas Assassinas, Princesa Diana, Michael Jackson. Mas Cristiano Araújo? Sim.

Lady Di, Mamonas, Senna, todos esses eram, guardadas as proporções, ídolos de grande alcance. Como, então, fomos capazes de nos seduzir emocionalmente por uma figura relativamente desconhecida?

Não vou entrar na polêmica porque pra mim ela nem existe. Apesar de eu não ter gostado do texto dele, entendi qual é a do Zeca. Não é elitismo, não é proselitismo, não é esnobismo, não é preconceito cultural. Além de gostar de tragédias, Zeca sofre de saudosismo. Notaram que ele cita ídolos dos anos 80 e 90, quando o mundo já era globalizado, mas não era tão segmentado? Vale lembrar que foi em 1995 que a internet comercial surgiu no Brasil e foi a partir daí que a segmentação de conteúdo e de públicos se tornou um caminho sem volta.

Eu não conhecia o cantor Cristiano Araújo, apesar de ter escrito uma nota sobre a prisão dele, em 2012, e ter comemorado o fato de finalmente terem prendido alguém em Goiânia por perturbação de sossego, não conhecia nenhuma música cantada por ele. Não tenho orgulho nem vergonha disso, é apenas um fato. Não vou ficar ofendida se os fãs de Cristiano Araújo disserem que não sabem quem é Fabiana Cozza. Não vou ficar indignada se desconhecerem Móveis Coloniais de Acaju. Não vou ficar brava se nunca tiverem ouvido Pentatonix. Não só aceito a segmentação cultural como a abraço com vontade.

E não venham me chamar de elitista ou dizer que tenho preconceito contra a música sertaneja porque sei todas as músicas de Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Xororó, Renato Teixeira e já indiquei até Victor e Léo aqui no blog.

Só mais um recado para o Zeca Camargo: acho que o povo brasileiro ainda tem sim grandes ídolos em comum, eles só não morreram de acidente nem de overdose. Tudo indica que vão morrer de "de idade", o que vai causar pouca comoção. Não vou citar nomes para não dar zica, mas se o pior acontecer com um deles, a gente se une e chora largado com vontade, combinado?

Contextualizando:

Até mais!

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