quinta-feira, 25 de março de 2021

📡 O fim da parabólica banda C

Parabólicas gigantes
Antenas que pegam muito mais que sinal de TV.

Há seis anos, a preocupação dos usuários de parabólica era a transição dos canais analógicos para os canais digitais. Quem tinha equipamento analógico teve que trocar por uma versão mais recente que recebe canais digitais, eu mesmo precisei trocar meu receptor. Mas a obsolescência não tem fim e em breve teremos a transição da banda C para a banda Ku (lê-se “ká ú”), exigindo LNBF compatível com o novo espectro.

Algumas definições importantes:

LNBF: low-noise block feedhorn
Conversor de baixo ruído com alimentador embutido. Aparelho que faz o apontamento da antena para o satélite.
FTA: free to air
Livre pelo ar - canais abertos e gratuitos, nosso foco neste texto.
5G
Internet que vai usar a faixa de 3,3 GHz a 3,7 GHz.
Banda C
Faixa de frequência entre 3,625 GHz e 6,45 GHz.
Banda Ku
Faixa de frequência entre 10,7 GHz e 18 GHz, mas os canais de TV só usam até 12,75 GHz.
W: west
Oeste - se refere à posição do satélite em relação ao meridiano de Greenwich. Como moramos no Brasil, todos os satélites que usamos aqui estão em posição Oeste.

Como é possível notar, a frequência do 5G está dentro da atual banda C. A Anatel já decidiu que os telespectadores de parabólica serão migrados para a banda Ku. Não temos datas ainda.

Existe a promessa de que as operadoras vão instalar as novas antenas, mas se realmente seguir os moldes da distribuição de conversores para TV digital, serão priorizados os beneficiários do CadÚnico. E se forem as mesmas antenas que as operadoras instalam para os clientes pagantes, os canais abertos só funcionarão durante dois anos. A Anatel ainda precisa ajustar muitos detalhes nisso tudo, como já pontuou a diretora da Abrasat.

Como tenho uma parabólica no telhado da minha casa, pesquisei para saber as alternativas para reaproveitar antena e receptor quando os canais FTA não funcionarem mais na banda C.

A banda C ainda deve funcionar por alguns anos, pelo menos nas cidades do interior. Há uma forte pressão para a estreia do 5G nas capitais porque a Anatel acha que não usamos parabólicas.

Sabendo que a migração virá, deduzimos que já não compensa comprar antena banda C. Inclusive, quem quer se livrar de uma, vai ter dificuldade para encontrar quem queira. Há dois anos atrás eu anunciei uma parabólica telada para DOAR e ninguém quis.

📺 Troca de equipamento

Para quem ainda não ligou o nome à “pessoa”, essa é uma típica antena parabólica para banda C, desconsiderando modificações e gambiarras:

Parabólica banda C

E essa é uma típica antena parabólica para banda Ku, também chamada de antena offset:

Parabólica banda K

Observe que é o mesmo modelo de antena usado pelas operadoras de TV por satélite, como Claro, Oi e Sky. Quando se fala em parabólica, muitas pessoas só pensam no modelo banda C, que tem no mínimo 1,5m de diâmetro. Mas essas antenas de operadoras, que geralmente têm menos de 1m, também são parabólicas que podem ser usadas para sintonizar canais grátis (FTA) se apontadas corretamente.

Mas é importante destacar que, além da antena, o kit de uma parabólica tem outros dois itens:

  • o LNBF, aparelho que fica no centro da antena e faz o apontamento para o satélite desejado;
  • o receptor que é conectado à televisão para sintonizar os canais.

Para ter os canais da banda Ku, talvez você não precise trocar todos os itens. Os receptores que foram adquiridos há menos de 10 anos para pegar os canais digitais também pegam a banda Ku. Mas não custa verificar se o seu modelo é compatível. Se perdeu o manual, aqui na internet você descobre isso.

Quanto à antena e ao LNBF, é mais comum trocar os dois juntos. O preço do LNBF avulso é mais da metade do preço da antena (que vem com LNBF), então geralmente compra separado quem quer atualizar o LNBF atual (de monoponto para multiponto, por exemplo) ou fazer uma adaptação.

📺 Escolha de satélite

É cedo para fazer troca completa do equipamento porque, até o momento, não temos um satélite com muitos canais brasileiros FTA usando o espectro Ku.

Há uma grande expectativa para o lançamento do satélite Star One D2 em 70° W, mesma posição do Star One C2. Esse lançamento foi adiado várias vezes. A última notícia que li anunciava para fevereiro/2021, mas já estamos em março.

A Embratel havia informado que os canais FTA estariam na banda C, tal como no satélite C2. Com a oficialização da faixa destinada ao 5G, é possível que isso tenha sido repensado, já que o satélite também tem 24 transponders na banda Ku.

O satélite SES 10, posicionado em 67° W e com bom mapa de cobertura, está com alguns canais FTA: Cultura, Futura, Terra Viva, Univesp TV. É um perfil interessante para quem busca canais educativos. Ainda são poucos para compensar a compra de uma antena, mas para quem já tem uma Ku “enfeitando” o telhado, é uma utilidade possível.

Para quem tem interesse em canais estrangeiros, especialmente de outros países da América Latina, vale a pena fuçar no Portal BSD para descobrir outros satélites.

📺 Satélite da operadora

Descubra para onde a sua antena Ku está apontada atualmente:

BluTV
Eutelsat 65 West A - 65,1°
Claro América Latina
Amazonas - 61° W
Claro Brasil
Star One C4 - 70° W
Sky
Intelsat 11 - 43° W
Oi
SES 6 - 40,5° W

Observe que a antena da Claro já está apontada para o principal satélite da banda C, Star One C2, e para a futura posição do Star One D2.

Para aproveitar uma antena de operadora, será necessário comprar um receptor próprio para canais abertos. O receptor da operadora pode ser devolvido à empresa ou colocados no lixo reciclável. Catadores de metais também podem aproveitar para tirar as partes que interessam.

📺 Adaptações

Enquanto não lançam algum satélite com vários canais FTA na banda Ku, algumas pessoas têm feito LNBFs adaptados para pegar as duas faixas ao mesmo tempo.

Também já é possível encontrar esses LNBFs híbridos em sites especializados e no Mercado Livre. Busca “lnbf banda c e ku” no Google que aparece.

Para melhorar em até 20% a captação da antena banda C, também existe o hábito de fechar a antena telada usando materiais diversos como garrafa pet, papel alumínio, zinco, caixas Tetra Pak (como as de leite longa vida), etc. É uma opção muito recomendada para quem quer aproveitar uma antena telada para banda Ku.

Não são poucas as experiências de pessoas que usam LNBF banda C em antenas Ku, e vice-versa. O formato do suporte é diferente nos dois tipos de parabólica, exigindo criatividade e improviso na hora de encaixar o LNBF.

Para quem quer aprender mais sobre tipos de LNBF, eu recomendo esta página do site Mundo Rede.

Tutoriais diversos sobre adaptações em parabólicas você encontra no YouTube.

📺 UHF na roça

Algumas antenas UHF do mercado prometem alcance de até 100 km, o que me parece um exagero, mas se atualmente você usa parabólica porque mora longe das torres de TV digital, é bom conversar com vizinhos e antenistas da região. Pode ser que alguns canais já estejam disponíveis via UHF, principalmente se for um lugar mais alto que o resto da cidade.

Mas morar longe nunca foi pré-requisito para precisar de parabólica. Na maioria das cidades do país, inclusive nas capitais, a parabólica é útil para complementar a grande de canais, sintonizando vários que não são retransmitidos na cidade.

Aqui em Goiânia, por exemplo, canais como Rede TV, TV Brasil, TV Escola, Futura, Canção Nova, Rede Vida… só pegavam via satélite. Com a TV digital, alguns desses canais já têm retransmissão aqui, mas com sinal fraco que não chega a todos os bairros. Eu mesmo moro numa região baixa que fica a dezenas de quilômetros das torres de TV, por isso as parabólicas ainda são muito comuns aqui.

Em Brasília, a TV Cultura só passou a ser retransmitida com a TV digital. Antes era exclusividade das famílias que tinham parabólica ou assinatura.

Tenho familiares na região de Campinas (SP) que têm uma parabólica especialmente para assistir canais espíritas.

Não sei até que ponto as pessoas estão se informando sobre a migração da banda C, mas é provável que essa notícia esteja fora do radar de muita gente que só vai perceber algo errado quando a parabólica parar de funcionar.

Apesar de uma parte privilegiada do Brasil já estar na era da TV pela internet, vale lembrar que muitos municípios do país - inclusive algumas capitais - não têm internet boa o suficiente pra isso, sendo a TV aberta a principal fonte de entretenimento audiovisual.


Vou voltar a esse assunto quando surgirem novidades em relação aos canais FTA da banda Ku.

Até mais!

Pix meutedio arroba mail ponto com

2 comentários:

  1. Aqui na minha (pequena) cidade MUITAS pessoas usam a parabólica como meio para assistir TV aberta porque o sinal terrestre é praticamente nulo(apenas 1 transmite em péssima qualidade, e os conteúdos são focados apenas na capital e região. Não dá nem vontade de assisitir).

    Raramente alguém aqui fala de alguma notícia regional porque estão assistindo notícias e conteúdos de São Paulo, Rio Janeiro... Bizarro isso: a população aqui não conhece as "emissoras" do próprio estado porque elas são inexistentes aqui, e não estão nem aí para o telespectador.

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    1. Sim, isso acontece em grande parte do interior do país, sendo muito mais fácil se atualizar pelo rádio e pela internet do que pela TV. Até agora não tem nenhum bom satélite FTA na banda Ku, temo um grande apagão da parabólica no Brasil.

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