quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O minimalista e a televisão

Texto publicado originalmente no blog Melhorada Mente.


Você já deve ter lido ou ouvido por aí que minimalistas não assistem televisão e alguns nem têm o aparelho em casa. Por quê? Vou explicar.

Como a gente ouviu na musiquinha do último post, quem se identifica com o minimalismo quer se livrar dos excessos e valorizar o essencial. Isso vale para coisas, atividades, experiências e, é claro, para a informação.

Já é clichê falar que vivemos em um planeta com excesso de circulação de informação e blá blá blá. Mas não podemos colocar a culpa na tecnologia, na sociedade, no capitalismo… Ainda temos o livre-arbítrio e podemos ter hábitos saudáveis, acessando apenas as informações que são importantes. Basta não ser "maria vai com as outras" e criar sua própria rotina. Os benefícios são inúmeros, mas se livrar do excesso de ruído já tem algumas vantagens garantidas:

  • menos dor de cabeça;
  • mais energia mental;
  • mais clareza mental;
  • mais facilidade para processar dados e informações relevantes;
  • mais foco naquilo que realmente interessa;
  • mais ação e menos ansiedade;
  • mais vida e menos preocupação;
  • menos vontade de comprar coisas das quais você nunca precisou;
  • mais propensão a de fato ajudar quem precisa, ao invés de apenas praticar o prazer mórbido de assistir pela milésima vez a mesma tragédia sem fazer nada.

E para alcançar tudo isso, você pode abandonar a TV de vez, o que é a atitude mais simples e radical. Mas você também pode aprender a usar a TV com propósito. Seguem algumas dicas que você pode colocar em prática agora mesmo.

Não assista telejornais

Essa dica já é bastante conhecida porque é repetida por todos os especialistas em produtividade, gestão de tempo, psicologia, felicidade… Quer ser infeliz? Assista a todos os telejornais que você conseguir. Quer ser mais feliz? Não assista nenhum.

Como jornalista que já trabalhou em telejornal, garanto que os telejornais não são um resumo dos fatos importantes do dia. Os telejornais são um resumo dos piores ou mais excêntricos fatos do dia: crimes hediondos, grandes casos de corrupção, golpe político, inflação, alta do dólar, bezerro que nasceu com duas cabeças… E tudo com texto, som e imagem para deixar os seus pesadelos ainda mais realistas.

É por isso que é muito melhor ler hard news durante o dia (não à noite) e em algum jornal ou site que priorize o texto, com poucas fotos. Nesse aspecto, o jornal impresso ainda tem a facilidade de escolha dos cadernos, evitando cliques impulsivos. Mas com disciplina e concentração, dá para fazer isso na internet também.

Mas ler notícias diariamente também não é uma necessidade para a maioria de nós. Entrar nos sites de notícias entre uma e três vezes por semana é suficiente. Você só tem que tomar cuidado para não substituir sites sérios, com notícias apuradas por jornalistas, por fake news espalhadas em redes sociais como Facebook e WhatsApp. Em outro texto vou falar mais sobre redes sociais, mas fica já esse alerta.

Evite TV comercial

Canais comerciais, sejam eles abertos ou fechados, têm uma característica em comum: muita propaganda nos intervalos. Parece que não nos afeta tanto, mas algumas horas por dia já são suficientes para nos fazer lavagem cerebral. Em pouco tempo já estamos acreditando na eficácia de produtos que nunca experimentamos, desejando produtos dos quais não precisamos, virando fãs de marcas que nunca compramos.

Para minha sorte, meus programas favoritos estão em canais públicos ou educativos que não têm propaganda comercial: TV Cultura, TV Brasil, TV Escola, Canal Futural. Mas só sinto necessidade de ligar a televisão se a internet falhar por mais de um dia. Mesmo os programas da emissora onde trabalho, acabo assistindo pela internet mesmo.

Aproveite os vídeos sob demanda

A maior parte dos programas de TV está na internet. A maioria das emissoras tem canal no YouTube. A Rede Globo tem seu próprio serviço de streaming. Se você gosta muito de algum programa da TV, é provável que consiga assistí-lo pela internet no seu próprio horário livre, se sujeitando ao mínimo de propaganda comercial, bem menos do que a gente assiste vendo TV por radiodifusão.

Mas se você acha trabalhoso demais ir atrás do programa na internet… Ótimo! É porque você não gosta dele tanto assim e pode ocupar seu tempo com entretenimentos melhores.

Aprenda idiomas na TV

Serviços internacionais de streaming, como Netflix, Amazon Prime e Claro Video, são ótimos por vários motivos, mas para quem quer ou precisa melhorar em algum idioma estrangeiro, eles são maravilhosos. Procure séries e filmes no idioma desejado e divirta-se enquanto aprimora sua audição. Minha compreensão de inglês melhorou muitíssimo assistindo séries e agora estou experimentando o mesmo com espanhol e francês. Ao invés de passar o tempo apenas "assistindo TV", você vai passar o tempo "assistindo TV enquanto melhora seu alemão, seu coreano". Outro nível!

Use a TV, não deixe a TV te usar

Ao invés de apenas aceitar o que a grade da TV oferece, você pode focar suas horas de entretenimento audiovisual naquilo que realmente te interessa. Tanto faz se você quer assistir todos os documentários sobre meditação, acompanhar os programas de pesca no Looke, ver todos os filmes sobre milícias mexicanas… O importante é transformar um hábito sem significado em algo que realmente faça sentido pra você.

Evite TV como som ambiente

Muita gente ainda liga a TV só para ter som ambiente, geralmente para isolar sons externos à casa, enquanto cozinha ou limpa alguma coisa. Até que faz sentido se estiver passando algum show ou concerto (Rede Vida, TV Senado, TV Cultura, MTV e Multishow são bons canais para procurar isso). Se não for o caso, acredito que existem métodos melhores como rádio e streaming de música. Se você também quer imagem, abra YouTube Música, Vevo ou algum DVD na sua TV.

Se, por alguma carência difícil de explicar, você sente necessidade de ouvir pessoas conversando, eu recomendo que escolha bons canais no YouTube, videoaulas ou podcasts de assuntos do seu interesse, pelo menos você vai se divertir e aprender alguma coisa ao invés de apenas ouvir coisas aleatórias na TV.

Em último caso, opte por um canal público ou educativo. Antes de voltar a usar TV comercial como som ambiente, lembre-se das propagandas que estão fazendo lavagem cerebral em você.

Minha opinião é suspeita

Antes de levar a ferro e fogo o que falei, você precisa saber que minha opinião é suspeita.

Sou jornalista, atualmente roteirista em um programa de televisão não-ficcional, moro sozinha e meu hobby noturno favorito é assistir séries, documentários e filmes usando serviços de streaming. Trabalho na afiliada goiana da TV Cultura, então conheço e valorizo a qualidade do conteúdo das emissoras públicas. No meu blog, volta e meia eu escrevo sobre TV:

Se você ler opiniões de minimalistas estadunidenses, por exemplo, quase todos vão dizer que assistir seriados é perca de tempo e eu concordo. Para eles, é perca de tempo porque eles já dominam o idioma dos seriados: inglês. Mas aposto que alguns deles assistem novelas para melhorar o espanhol.

Já aqui no Brasil, digo que assistir novelas brasileiras é perca de tempo. A gente não aprende muito com elas porque elas têm texto pobre e prolixo, já que não são escritas para nós, mas sim para um público que não conseguiria nem ler este texto até aqui.

Se você chegou a este parágrafo, há coisas muito melhores disponíveis pra você: seriados, filmes, documentários, programas histórico-culturais, programas de humor inteligente. E tudo isso já está incluso no plano que você paga de internet e streaming.

A dica é não tentar assistir tudo de uma vez e ir degustando aos pouquinhos no pouco tempo livre que você tem para entretenimento audiovisual.

Se nada disso faz sentido pra você, lembro novamente que há uma opção ainda melhor: abandonar a televisão de vez. Ela não é essencial e você vai notar que há coisas bem mais divertidas para fazer, especialmente lá fora.

Até mais!

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